Você sabe o que é startup camelo?

Diferente do tipo unicórnio, a startup camelo é focada em gerar lucro

O ano de 2020 foi marcado por diversos aportes milionários no setor de empresas de tecnologia. Sendo assim, o Brasil pode aumentar a lista de companhias unicórnios (àquelas que são obtidas pelo mercado acima de US$ 1 bilhão). Até o mês passado, 322 empresas de tecnologia receberam rodadas de investimento em solo brasileiro. Isso é aproximadamente 30% a mais do que em 2019, um ano que já tinha quebrado recordes desse tipo de transação. As informações são da consultoria Distrito, dedicada ao ecossistema de empreendedorismo.

Pandemia

Se não tivesse acontecido a pandemia de Covid-19, 2020 teria sido um ano ainda mais promissor para o universo das startups. Nos meses de janeiro e fevereiro, as empresas de inovação do país receberam mais de R$ 1 bilhão em aportes. O percentual equivale a 45% mais do que no mesmo período de 2019. No entanto, a partir de março, no auge da crise sanitária, as transações foram interrompidas.

Diferentemente dos bancos, que desaceleraram na concessão de crédito a pequenas e médias empresas, em razão das incertezas, os investidores foram passaram a abrir a carteira aos poucos.

Startups brasileiras

Até o momento, as startups brasileiras levantaram US$ 2,2 bilhões em aportes, ou seja, 80% do total do ano passado inteiro. O setor avalia que a pandemia trouxe oportunidades únicas, revela Mate Pencz, sócio da Loft, startup de compra e venda de imóveis:

“Estamos no olho do furacão, mas, passado o susto inicial, o consenso é que houve progressos com a digitalização antecipada de muitos setores.”

A empresa foi alvo de uma rodada de US$ 175 milhões em janeiro, tornando-a o primeiro unicórnio do país em 2020.

Startup camelo

Com isso em mente é aí que entra a startup camelo. Mas afinal de contas o que significa este termo? Em suma, diferente da denominação unicórnio para empresas que passam a valer mais de um bilhão de dólares, a sturtup camelo precisar gerar lucro de fato, em razão da pandemia.

Uma observação mais atenta às maiores rodadas de investimento no Brasil neste ano revela uma exigência crescente dos fundos. Isso porque nos últimos anos eram comuns as histórias de jovens empreendedores com sede de reinventar o jeito de setores inteiros, e ainda a investir fortunas na conquista de mercado. Prova disso, são as marcas que nasceram do nada para os brasileiros e em menos de 10 anos, conquistaram o mundo, como os aplicativos Uber, 99, Rappi e outros tantos.

Blitzscaling

Na época, esta tática até ganhou o apelido no Vale do Silício, berço da cultura empreendedora, de “blitzscaling” – junção de “blitzkrieg”, estratégia do Exército da Alemanha nazista de atacar com força o inimigo para avançar rapidamente, e “scaling”, termo em inglês para a expansão de empresas.

Em contrapartida, o modelo já vinha sofrendo com críticas antes da pandemia em razão da desconfiança sobre startups, como a de aluguel de escritórios, WeWork. A abertura de capital desta empresa foi cancelada após o descontrole nas finanças ficar evidente no decorrer de 2019.

O modelo caiu por terra, pois quem quer perder dinheiro em troca de lucros em meio a um futuro cada vez mais incerto?

Geração de lucro

Portanto, em vez de negócios queimadores de caixa, os fundos estão apostando em empreendedores capazes de aliar receitas em altas com gastos enxutos. Esta é uma forma de se blindar nos novos tempos. Em um artigo de abril, o investidor americano Alex Lazarow, do fundo Cathay Innovation, chamou os negócios que gera lucros de “camelos”, em uma referência ao fato de os mamíferos armazenarem grandes volumes de água. Consequentemente, eles podem sobreviver em ambientes inóspitos, como o deserto.

Startup camelo no Brasil

No Brasil, em razão da tradição de juros altos, as startups mais bem-sucedidas já estavam acostumadas a uma operação mais sóbria em comparação aos pares em mercados desenvolvidos, como EUA e Europa. Sobre isso, Marcos Toledo, sócio do fundo Canary, afirmou à revista EXAME:

“Ninguém crescia aqui sem pensar no caixa.”

Maior desejo dos fundos

Para Gustavo Araújo, fundador da Distrito, a diferença é que agora o empresário calejado é o mais desejado pelos fundos de investimento:

“Os empreendedores mais bem-sucedidos têm em média de 35 a 45 anos e experiência de pelo menos dez anos no mercado.”

Isso só reforça ainda mais um estudo que saiu no ano passado em que dizia que a experiência contava muito mais no sucesso de uma startup.

*Foto: Divulgação