Estudo revela que experiência vale mais no sucesso de startups

Pesquisa americana aponta que o sucesso de startups que mais crescem é baseado em fundadores com 45 anos de idade, em média

Quem pensa que ser mais jovem e antenado são fatores determinantes para abrir uma startup de sucesso, está enganado. Segundo um estudo recente do MIT (Massachusetts Institute of Technology), é necessário ainda ter ousadia, um bom modelo de negócio e a idade correta: em média, 45 anos. Sobre isso, o pesquisador responsável, Daniel Kim, do MIT, explica:

“Associar startups a pessoas muito jovens é a visão prevalente, sobretudo no segmento de tecnologia. Nossa pesquisa mostrou o contrário: a faixa etária dos empreendedores nessa área está acima dos 40, e, nas empresas que mais cresceram, a idade média é de 45 anos”.

Chances de sucesso – estudo do MIT

O estudo do MIT, publicado em abril deste ano, foi feito em parceria com o Departamento de Censo dos Estados Unidos e com o NBER (Bureau Nacional de Pesquisa Econômica, na sigla em inglês). Sob a supervisão do professor Pierre Azoulay, os pesquisadores utilizaram big data para avaliar dados de 2,7 milhões de fundadores de companhias no EUA entre os anos de 2007 e 2014. Com isso, Kim afirma que a principal conexão entre idade e sucesso é o acúmulo de experiência:

“Nossa pergunta foi: se é verdade que o melhor desempenho está ligado aos muito jovens, por que a experiência, tão valorizada em outras áreas do mercado, não vale para as startups?”

Critérios da pesquisa

A revelação do MIT não foi uma surpresa para o presidente da Abstartups (Associação Brasileira de Startups), Amure Pinho, 39 anos. Ele é investidor-anjo desde 2011 e afirma utilizar dois critérios para avaliar empreendedores com potencial alto de crescimento. O primeiro é saber se a pessoa tem outras experiências de trabalho e segundo, se tem filhos, que ele acreditar dar mais foco.

Pinho diz que acumular experiência é essencial no Brasil, pois no país as grandes startups são do tipo B2B (business to business), ou seja, que promovem produtos e serviços a outros negócios:

“Quem já tem tempo de trabalho em outras empresas conhece as necessidades do mercado e pode oferecer melhores soluções”.

Empreendedores

Portanto, longa jornada de experiência em outras empresas antes de abrir a própria vale bastante por aqui e pode acarretar num grande sucesso. É o caso dos engenheiros Danny Kabilijo, 41, e José Guerreiro, 56. A dupla se uniu para fundar s startup FullFace há quatro anos. Antes, eles somaram larga trajetória em grandes companhias.

O primeiro veio do ramo de hipermercados e franquias de estética. Já o segundo passou pelo setor de tecnologia em indústrias automotiva e química.

A FullFace é especializada em biometria e reconhecimento facial. Sua tecnologia opera em qualquer hardware e não armazena fotos, na intenção de proteger melhor dados pessoais. De processamento rápido, garante até 99% de valor verdadeiro, de acordo com os sócios.

A empresa tem sido solicitada nos segmentos: financeiro, educação à distância e no setor aéreo. Neste último, a startup criou o primeiro sistema mundial de check-in por selfie, para a Gol.

Está sendo usada no segmento financeiro, na educação à distância e no setor aéreo —eles criaram o primeiro sistema mundial de check-in por selfie, para a Gol.

Aporte milionário

No ano passado, a FullFace recebeu um aporte de R$ 5 milhões de um grupo de investimento. Por ordem contratual, eles não revelam faturamento, mas asseguram que o número já quintuplicou no último ano.

O começo do negócio foi bancado do próprio bolso, afirmam e Kabilijo ressalta:

“Nossa ideia é ter perenidade, não criar uma bolha para crescer rápido e vender a empresa”.

Em 2019, a startup atingiu 16 funcionários, com faixas etárias, entre 20 e 50 anos.

Aliar gerações é indício de sucesso nos negócios

A junção da ousadia dos mais novos com a experiência da geração anterior pode se tornar uma trajetória de sucesso, afirma Pinho, da Abstartups. Porém, não são todas as empresas que promovem este encontro promissor:

“Em geral, eles só contratam alguém mais velho quando conseguem captar muito dinheiro. Os próprios investidores demandam profissionais com experiência em operações financeiras, vendas etc.”

Ele também diz que atualmente o jovem empreendedor se tornou uma espécie de popstar e quer ser visto como uma celebridade. Portanto, “os mais velhos são mais discretos.”

Em relação à experiência dos mais velhos, como cases de sucesso, sempre vem à tona nomes como Bill Gates, Steve Jobs e Jeff Bezos. Porém, o pesquisador Kim, do MIT, revela que isso também necessita ser relativizado:

“No estudo, constatamos que a Apple (Jobs), a Amazon (Bezos) e a Microsoft (Gates) atingiram seu ápice quando seus fundadores tinham respectivamente 48, 45 e 39 anos”.

Todavia, isso não quer dizer que precisa atingir a maturidade para iniciar um empreendimento. Prova disso é que Mark Zuckerberg fundou sua companhia aos 19 anos e neste contexto, aquela era a hora exata de abrir seu próprio negócio, afirma Kim. Por fim, o pesquisador conclui que:

“Não é preciso esperar ter mais de 40 anos para ser um empreendedor, mas há uma conexão forte entre o sucesso da startup e a experiência de seus fundadores. Esse fato estava escondido sob a imagem romântica do garotão de tênis na garagem de casa criando o software que vai revolucionar o mercado”.

Fonte: Folha de S. Paulo

*Foto: Divulgação / Luiz Michelini