Diálogo nas comunidades: Preto Zezé fala sobre setor privado e governo

Falta diálogo nas comunidades com o setor privado e o goberno, para buscar soluções, afirma o conselheiro nacional da Cufa

Segundo o empresário e ativista social Celso Athayde, “Favela é potência”. O lema foi replicado e atualmente também é o tema que move a Central Única das Favelas (Cufa), presente em 5 mil comunidades em todo o Brasil. Já o cofundador da Cufa no Ceará e conselheiro nacional da instituição, Francisco José Pereira de Lima, mais conhecido como Preto Zezé, acredita que são necessárias políticas públicas, participação da iniciativa privada e um conjunto de ações para o enfrentamento das desigualdades sociais.

Vale lembrar que no ano passado, as comunidades também queriam sua TV independente.

Falta diálogo nas comunidades

Preto Zezé afirma que há falta de diálogo nas comunidades junto ao setor privado, governo e sociedade como um todo. E é preciso mudar isso, começando a otimizar essas relações. Assim será possível gerar uma política de maior impacto que colabore para reduzir a desigualdade social deste País.

“A gente precisa de um conjunto de políticas integradas, porque não tem uma política salvadora da pátria”, afirmou o ativista à Esfera Brasil.

Olhar para as comunidades

Além disso, Zezé ressalta que as empresas precisam olhar com mais atenção para as comunidades e notar o potencial que existe nos territórios:

“O setor privado vê as favelas como um lugar de carência; o setor público, como gasto, nunca como oportunidade. As favelas representam um contingente de 20 milhões de pessoas. Hoje, elas somam R$ 280 bilhões de poder de consumo, que é o PIB [Produto Interno Bruto] do Paraguai e da Bolívia juntos, ou do Uruguai sozinho.”

O empresário disse ainda que: “Começaram a ver que esse povo trabalha para produzir riqueza, mesmo numa situação precária, difícil, essas pessoas conseguem se reinventar. A gente começa a tirar a favela das páginas policiais e falar de economia, então você faz uma migração. Isso produz um outro olhar sobre o território. É a virada de chave em que a favela não é mais vista somente como um ambiente de carência e vira um lugar também de potência”.

O poder das mulheres

Além disso, hoje, a cada dez lares nas comunidades, sete são geridos por mulheres. Segundo Preto Zezé, são elas que decidem como a renda da família será gasta, por isso merecem uma atenção especial da sociedade.

Na visão do ativista, quando as empresas percebem que tudo se trata de negócios, elas descobrem que “o social e o econômico dialogam e não são concorrentes”. Entretanto, ainda há preconceito em se investir nas comunidades.

O ativista explica que as marcas, empresas e serviços que vão se destacar nesses ambientes são aquelas que não estiverem desconectadas da vida dessas pessoas. “Se estiverem preocupadas só na questão do lucro, vão perder outras oportunidades, inclusive de fidelizar o cliente”, pontuou.

Como exemplo, ele citou uma empresa que vende fraldas. Se ela decidir construir uma creche na comunidade, poderá impactar positivamente a população local e, ao mesmo tempo, vender mais. Tal exemplo pode ser replicado para diferentes nichos econômicos.

Iniciativas

Contudo, já há bons exemplos em prática. É o caso da Favela Holding, comandada por Celso Athayde, que reúne 27 empresas que atuam nas áreas de marketing, logística, telefonia, comunicação, outdoor, influência digital e produção musical e cultural. A atividade começou na região Sudeste do País, devido à maior concentração de empresas, mas a tendência é de expansão no Brasil.

Outro exemplo é a Favela Log, empresa de logística de entrega de produtos dentro de comunidades em cinco cidades. A estimativa é chegar a dez municípios até o fim do ano. Segundo Preto Zezé, 87% dos moradores de favelas compram pela internet, mas somente 46% recebem os produtos. “Existe um vácuo enorme por causa de territórios que não têm CEP, endereço ou não conhecem a área. Então a gente instala um centro de distribuição dentro das favelas e faz as entregas das grandes empresas”, explicou.

Acesso à internet

Por outro lado, um grande desafio das comunidades é terem acesso à internet de qualidade. “O 5G está aí, mas para quem? Para quantos?”, questionou Preto Zezé.

Segundo o conselheiro da Cufa, a realidade pode ser mudada por meio do diálogo, quando as empresas começarem a pensar junto com as comunidades os produtos e negócios. O mesmo vale para o setor público. Ele ainda acrescenta:

“Quando você coloca um equipamento público com cogestão dos moradores da favela, o impacto vai ser maior, o resultado, a otimização dos recursos e do tempo, a eficiência de gasto, a preservação do patrimônio e o envolvimento da sociedade. Fazer junto é uma forma de otimizar tudo.”

Políticas públicas

Por fim, acerca das políticas públicas, o ativista diz que elas não estão alinhadas e, consequentemente os resultados também não serão os esperados. “Se você botar uma escola em um território degradado, sem saneamento, que só tem violência, onde ninguém cuida das crianças e das mulheres, esses problemas vão para dentro da escola. Não existe educação sem cultura, tecnologia, infraestrutura, financiamento e acesso ao crédito. Então é uma série de fatores em torno de políticas integradas.”

*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/bela-vista-de-uma-pequena-cidade-nas-montanhas-durante-o-por-do-sol-no-brasil_15695652