Moeda Brasil-Argentina: Entenda como funcionaria

Moeda Brasil-Argentina foi tema abordado durante visita de Lula à Argentina; especialistas opinam sobre vantagens e desvantagens

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Argentina na semana passada deu o que falar. Isso porque tal encontro com o mandatário do país vizinho, Alberto Fernández, reacendeu a discussão sobre a possibilidade de uma moeda comum entre os países do Mercosul. Além disso, na visita, Lula chegou até mesmo a defender uma moeda comum entre os Brics (Rússia, Índia, Brasil, China e África do Sul) para que o comércio exterior entre essas nações seja menos dependente do dólar americano, movimentando o mercado.

Moeda Brasil-Argentina

No entanto, segundo o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, a moeda Brasil-Argentina não vai substituir o real nem o peso. Esse tipo de moeda também não entraria em circulação, nem seria usada pela população. Sendo assim ela serviria apenas para transações comerciais entre os dois países, e com isso evitaria que as transações entre os dois países fossem feitas em dólar comercial.

Opinião de especialistas

Na semana passada, o portal JOTA ouviu a opinião de especialistas sobre a possibilidade de uma moeda comum. Entenda a seguir como se daria tudo isso, assim como suas vantagens e desvantagens.

De acorod com o professor da Universidade Mackenzie (RJ), o advogado Kaiser Motta Lucio de Morais Júnior, o uso da moeda comum não inviabiliza a existência das demais moedas.

“Seria uma moeda nova e focada nas transações comerciais entre os dois países com o propósito de promover a integração e aumento do intercâmbio comercial.”

Por outro lado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não é a favor de uma moeda única para o Mercosul, como é o euro na Europa. Entretanto, seria a favor de uma moeda comum. Ele disse ainda que este tema será discutido por um grupo de trabalho, ao longo de vários anos. E declarou também na última segunda-feira (23), em evento com empresários dos dois países em Buenos Aires, que o que está em estudo é a viabilidade de uma moeda digital comum que seria usada apenas em trocas comerciais, para reduzir a dependência em relação ao dólar.

“Recebemos dos nossos presidentes uma incumbência de não adotar uma ideia que era do governo anterior, que não foi levada a cabo, da moeda única. O meu antecessor, Paulo Guedes, defendia muito uma moeda única entre Brasil e Argentina. Não é disso que estamos falando. Isso gerou uma enorme confusão, inclusive na imprensa brasileira e internacional.”

Já o professor Mauro Rochlin, professor e coordenador do curso de MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse ser cético em relação a essa moeda comum entre os países. Isso porque há uma forte variação inflacionária do peso argentino.

“Sou um tanto cético com relação ao sucesso dessa iniciativa, muito por conta da forte instabilidade da economia da argentina. Eles enfrentam um processo inflacionário agudo, e por conta disso, não é raro eles assistirem episódios de forte volatilidade da moeda deles, ou seja, variações muito profundas em um espaço muito curto. Então, essa volatilidade mais extremada da moeda argentina torna muito difícil se estabelecer uma moeda comum.”

Rochlin acha ainda que essa ideia seja implementada. Neste caso, os países terão que dar garantias aos credores e ainda encontrar uma forma de controlar essa volatilidade da economia argentina. Em primeiro lugar, é preciso dar garantias aos credores de ambos os países, credores de transações bilaterais.

“Em segundo lugar, poderia e isso seria uma vantagem, buscar uma forma de amenizar essas fortes flutuações.”

Moedas únicas em outros países

Vale destacar que em relação a moedas únicas que circulam no mundo, o euro é o mais lembrado. Porém, há outros casos de moedas unificadas.

Já o continente africano é um bom exemplo de unificação de moedas entre países, tendo duas moedas unificadas. Uma delas é o franco CFA da África Ocidental, composto por um bloco oito países: Benin, Burkina Faso, Guiné-Bissau, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal e Togo.

A outra moeda é a chamada de franco CFA da África Central, composta por um bloco de seis países: Gabão, Chade, República do Congo, República Centro-Africana, Guiné Equatorial e Camarões.

Por fim, outro exemplo é o dólar do Caribe Oriental. Essa moeda é indexada ao dólar americano, com uma taxa de câmbio fixa e faz parte da economia de um bloco de oito países, sendo eles: Anguilla, Antígua e Barbuda, Dominica, Granada, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Montserrat.

*Foto: Reprodução