Setor varejista continua em queda no Brasil e EUA

Setor varejista não deve se recuperar economicamente em V, como andam afirmando

O Departamento de Comércio dos EUA informou um aumento das vendas no setor varejista no mês de maio, registrando 17,7% ante abril. Essa taxa de desenvolvimento foi uma surpresa, já que o esperado para o período era um índice de 8%.

Com isso, o presidente Donald Trump afirmou que era o maior aumento mensal já registrado na história da série e que seria um presságio para resultados mais positivos em Wall Street e também no mercado de trabalho. No entanto, tal resultado causa expectativas de que uma recuperação econômica rápida estaria sendo desenhada, em relação à pandemia de Covid-19.

Setor varejista brasileiro e norte-americano

Tais fatores anunciados e interpretados por analistas como um sinal de recuperação no formato de V é somada à hipótese de que o choque gerado pelo isolamento social acabou adiando o consumo natural e, na medida em que foi flexibilizada a quarentena em ambos os países, uma recuperação rápida de demanda acontecerá, o que pode acarretar em um overshooting de crescimento.

Com este cenário, a economia voltaria a crescer à taxa pré-crise e o PIB seria atingido só temporariamente.

Porém, a realidade é que as disrupções geradas pela Covid-19 e por medidas de saúde pública adotadas são bem mais expressivas em termos de mercado de trabalho e estruturas de produção do que experiências passadas.

Contrações na economia

A perspectiva é de que a economia norte-americana sofra contração de 5,9% no FMI ou ainda 8,5% no OCDE neste ano. Tais probabilidades indicam uma recuperação bem mais lenta, sobretudo, por conta do estado atual do mercado de trabalho nos Estados Unidos, com taxa de desemprego de 13,3% no mês de maio.

Apesar de que seja correto dizer que a economia americana inicia uma recuperação na medida em que as regras de distanciamento social são flexibilizadas, é importante ressaltar também que as vendas do setor varejista em maio de 2020 ainda estavam 6,1% abaixo do nível do mesmo período em 2019.

Fora isso, a recuperação representa medidas fiscais, que equivalem a quase 11% do PIB, o que tem auxiliado a manter a renda dos consumidores. No entanto, algumas dessas medidas não serão mais seguidas nos próximos meses.

Recuperação em V é equívoco

Em suma, interpretar esse resultado como sendo de uma recuperação em V é um equívoco. Apesar disso, a experiência dos Estados Unidos indica que observaremos uma recuperação do varejo brasileiro neste mês de junho, já que estamos ensaiando uma abertura gradual da economia.

Contudo, a depressão do setor varejista continuará e a sustentabilidade desta retomada vai depender da evolução da pandemia.

Mas Trump acertou ao prever que o mercado de ações responderia de forma positiva aos números do varejo em território americano. Todavia, vale ressaltar que isso reflete a exuberância irracional de um mercado movido pela avalanche de liquidez propiciada pelo Fed.

Fonte: Folha de S. Paulo

*Foto: Divulgação